quarta-feira, 17 de abril de 2024

            


         

                      Tudim, fim de mundo. Sodoma e Gomorra. N’água, inda sobrou gente, quero ver neguim se salvar nas chamas. Ver? As labaredas vão assar todo vivente, Mancambira. O derradeiro, Didi, o derradeiro.E vai ser tu, Zé? Oxente. Vejo quem antes d’eu. Grande coisa! E ninguém pra contar, Zé? Aí é dureza, tem de ter alguém. Se eu pudesse escolher! E quem seria, Zé? Sei lá, você. Eu, Zé? Não tem graça, já sei. É. Ninguém. Melhor morrer logo, assim não sofre. Céu e inferno, será que mesmo? E quem sabe, Mancambira? Na dúvida, melhor viver o agora, porquê depois, já era. Vontade? Faça, agora. Amanhã será tarde. Você quer fazer e não pode mais. Relembrar o perdido é dor que se renova. E é mentira, Zé que a gente não se arrependa do feito e do não feito. Arrependimento Todo mundo tem. E eu conto mais de mil. E isto,  dói. Isto dói.

                                               

domingo, 14 de abril de 2024






                         Quem é este Elon Musque na fila do pão, Zé Mancambira? Agora qualquer um que faça fortuna, se acha no direito de se imiscuir nos negócios internos do país? O que será do mundo agora, depois que o Estado permitiu a expansão destes monopólios? Será que o mundo, tão faminto por democracia, vai se curvar à vontade destes potentados? Será que o mundo? E se o cara for realmente um chincheiro? Eu, para lhe dizer a verdade, não acho. Mas, for, estará agindo por vontade livre ou sob efeitos de drogas? Não o mundo tem que um basta nestes caras. Eles, que não passam de uma vintena, poderão, por egoísmo,  exibicionismo ou ganância levar o mundo à ruína. Nada aprenderam da implosão daquele submarino? Tanta gente no mundo, Zé, no entanto, tudo carneiro! Quem quer que se levante, será calado pela censura, pelo cancelamento, pelo escarnho!

sexta-feira, 12 de abril de 2024

 



                  Eu dormi em cima do sono. Estava eu num asparte? Juro que não sei. Só me lembro da creba da despensa lá de casa, obrigando a gente se mudar pra Rua  Nova, na casa de Seu Agenor, pegada com a padaria de Baio, que se mudara pra Pintadas. Agenor, único fogueteiro de Capela, era cheio de goga e mentia quiçó, vivia dizendo ser o melhor da região, obrigando o povo de Capela comprar foguetes em sua mão. Não me pergunte mais nada, abegue. Mamãe alugou a casa dele por enquanto consertava a nossa. Isto foi, cheu ver, quando papai, em razão do fiado, teve de fechar a loja e fugir dos credores, tentando, fora, ganhar dinheiro e poder pagar seus débitos, deixando em casa, um caderno de cheio de notas do fiado. Papai foi pro Rio de Janeiro e disse pra mamãe cobrar o fiado., para que mamãe cobrasse aos devedores. Ih, se me lembro. Mamãe, muito chorosa, me acordando, procurar papai. Foi encontrado em Feira, envergonhado pelos débitos e pela fuga. Ah, o valor do aluguer? Sei lá, um ceitil, por fechada um bocado de tempo. Eu, vou dizer, gostava de lá. Pegada à padaria de Baio, ele me sobras de pão e de biscoito; N’outro lado, a quitanda de Zé de Liodoro, também me dava sobras de frutas passadas. Ali, Zé de Danié, que pouco ou nada sabia ler, pegou dum pedaço de jornal e de cabeça para baixo, só de mulequeira, começou a ler a história da surra que deu D. Rofa em Maria Pinhão, rapariga de Mané Gongom, seu marido. Ela tanto, de manguá bateu na Pinhão que esta ficou roça. O fato foi verdadeiro, mas o danado do Zé inventava coisas para fazer a gente rir. Zé de Danié,  turipa de primeira, sabia contar uma história para se rir. Não havia quem não se risse de suas invencionices. Quando chegava no almansafe, ele dava uma parada e observava a gente morrer de rir. Aí, meninos, homens e mulheres gritavam pra ele contar o resto que nunca se sabia o fim, porque cada vez que ele contava, era um forma diferente. O muleque, se tivesse estudado, seria um grande escritor. Hora ele parava, de charme, porque ele estava cansado. Pura mentira. Só para aguçar a curiosidade dos ouvintes. Zé Mancambira,  parente de Mané Gongom, se desmanchava de ri. Dé de Cornélio, mordendo o indicador dobrado, imitando Mané Gongom, ah se eu te pegar, muleque, ah se eu te pegar. Era uma gargalhada só. Ah, Capela, camanha vida tiv’eu ali! Didi. Eu digo. E tu, Mancambira? E que digo? E direi-vos, agora’, amigo, camanho temp’ há passado! E. Muito triste, terceira mundial. E. Vejam, quem deu causa a elas?



domingo, 7 de abril de 2024

                      



                        É, Mancambira, est’orb’stá em brasa viva, amigo! Deix’star, Didi, deix’star. Só quero comer peixe frito. E se fores, tu, também um peixe? Se com espinhas, for, pouco se me dá de ser comido. Um mundacho muito torto, né, Frei Teodoro? Tu vais ver coisa, não te disse? Profetizavas, padre. Gorinha, mesmo. Um forasteiro, mandar no STF! E a soberania? vão deixar? Que não, Frei Damião. Hora de união. Agora sim. Brasil acima de todos. Errado, viu Zé Mancambira? Se deixarmos, adeus liberdade. Se estes caras das mídias começarem a mandar, a quem você vai recorrer quando pisarem em teus pés? A justiça é o baluarte da liberdade. Imagina! deixar seu destino nas mãos destes magnatas de quem você jamais terá acesso! Eles enricam com seu conteúdo grátis que você lhes fornece,  mas você, para eles, nem mesmo existe. Quando querem, cancelam seu perfil, sem sequer avisar. O gafam, dizem, sonegam impostos, nova escravização, tu trabalhas de graça para eles e invadem totalmente tua privacidade, e, mais grave, destrói empregos. 

 


Só o que faltava, um estrangeiro, viciado em drogas, querer mandar no STF!

sábado, 6 de abril de 2024

A GUERRA DO OCIDENTE CONTRA A RÚSSIA

        




                        A Rússia perde esta guerra, Mancambira. Não queria falar disto, vocês me perguntaram…

                            Dizem, por aí. Não se pode falar de coisas fora do tema do romance. Quebra a unidade, a autenticidade.

                     Críticos ditam regras, escritores, escrevem. Quando na Escola de Teatro, li do crítico Walter Kerr, péssimo dramaturgo, o Shakespeare. Seus personagens,  ao morrer, fazem um longo discurso, ninguém aguenta, a vida não é assim.

                     Ora, perto de Shakespeare, quem é Walter Kerr na fila do pão?

                       Primeiro, Shakespeare não se propunha a reproduzir a vida, mas recriá-la.

             Não, não devem existir regras. Nem mesmo a vida tem regras, ela é.

                   Por isto, conto a vida, mas  sem peias, como sai de minha cabeça, tanto a vida deste mundo torto, como a vida desta Capela véia de Joaquim Machado, Né, Zé de Danié? 

                      Mas, uma coisa é certa. A guerra é um erro, muita morte por coisa nenhuma.

                  Não, Vavá, não é questão de certo ou errado, de ter ou não ter razão. Guerra é política, quando falha a palavra, parte-se para porrada. Mortes, vai sempre ter. Isto é bom, o homem só aprende com sofrimento.

                  Mas só quem morre é peão, coronéis não morrem. Verdade, Miguezim, porém, muito peão merece morrer. Essa não. Esta, sim, tio Zito. Um exemplo. O sujeito joga comida fora. Só por isto, tem de morrer? Sim porque, quando se joga comida fora está-se privando milhões de outras pessoas daquele alimento. Fome, causa de guerras. Estruir comida aumenta a carestia, provoca a fome, causa conflitos e guerras, pior que matar alguém. Não concordo, Didi, mas… vejam a diferença, matar um e matar milhares.

                          Sim, e por quê a Rússia vai perder? Não há guerra contra a Ucrânia, mas contra o Ocidente, na Ucrânia. Se outros países não ajudarem a Rússia, de qualquer maneira, ela vai perder.

                     O drone vai continuar voando até te matar ou até cair em cima de você, para te deixar ferido, até que outro venha te pegar. O outro segundo vem para te liquidar. Dizum.

                    Outrodiz lutamos, luta inglória  para manter sob nosso controle a Porta do Donbas. Se os russos tomarem esta colina, abririam a porta para chegar a outras cidades. Imperioso detê-los. Eles têm muitos efetivos, grande minição, e, pigarreia, atacam, atacam, constantemente, tanto por ar, como por terra. Pesada artilharia. Nós, resistimos, Deus sabe até quando. Medo? Como não ter? Eles têm medo. Guerra, ruim para todos. Eles,  sofrendo para nos matar,  nós, sofrendo para não morrer.

                      Longe do campo de batalha, mas não tão longe para não ouvir os tiros, Mykola, num banco em frente de casa: “não importa o que aconteça. Plantamos batatas e capinamos os jardins. Presos. Não temos aonde ir,  diz acariciando seu cão. Vamos ficar até o fim, se nos pegarem, nos pegaram e é isso.

              Ninguém pode me dizer que isto não seja triste. Vida, é a vida.