terça-feira, 29 de novembro de 2016

LA NOCHE TRISTE CHAPECOENSE


La Malinche -  Alfredo Ramos Martinez, 1930





                          A vida, as vezes, invade a arte, hoje, a morte a invadiu. Arte, pensam, imitação da vida. Não é assim, Aristóteles?Doce ilusão. Nem chega aos pés do real. De foice na mão, com seu traje preto, entrou, sem ser percebida, no avião da Chapecoense. Tudo ia bem até as faldas Medellin. Quanta luta para a Sul-Americana. A morte é escuridão, que dirá a caixa? Pane seca? Que alguém precipitou sobre as serras de Medellin  o Bae 146 da Lamia? Vejo que não vivo, durmo. Longa noche triste. A penúltima noite no Vieira. Guerra de travesseiros. Tudo ia ao ar, os padres à loucura. Sem castigo, o amanhã era a partida. La Noche Triste. Junto de sua Malinche teria chorado Cortez a perda da batalha para os astecas. La Malinche,  como muitos traidores, não chorou, porque a traição é própria dos sem lágrimas. Pouco se lhe importa. O trair é um êxtase só para quem trai, interdito aos demais, mesmo que se beneficia.
                  Heróis, onde andarão vocês? Tu, Danilo,  por que  tanto segurar a bola? Zé de Danié, o gato,  lá em Capela. A vitória pode nos levar à derrota. Como Pirro, choremos a vitória. Choremos a morte. A dor une, a alegria separa. A vitória só vem com a derrota.  Teu rival te quer campeão. Querem te ceder atletas, que não sejas rebaixado. O Racing faz homenagem, manifestam-se nas redes. O mundo se dilacera, o povo desunido, chora unido. Política desune, futebol une. Não me vanglorio da morte de ninguém, como vi pela morte do Fidel. Ela nos iguala, faz pensar. Salve Ximena Suárez, Salve Erwin Tumiri, Salve Rafael Henzel, Salve Follmann, Salve Neto, Salve Alan Ruschel vocês podem, sim, nos dizer que gosto tem a vida. Horus que carrega as chaves da vida e da morte vos reservou uma missão. Vão, daqui eu vejo tudo, e digam a quem quer tirar dos outros a vida, digam, vocês, a quem quer de si, tirar a própria vida, o quanto valiosa ela é, mas digam também a todos o quanto pequeninos sois para estarem aí digladiando uns com os outros no lugar de gozarem juntos a vida que lhes dei. Hoje perdoo todos meus inimigos, até tu, Aloisio Leal,  que me derrotastes na flor dos meus anos, derrota que foi vitória, tu não sabes,  também saíste naufragado. Todo vencedor traz uma veste rasgada. Não te vanglories tanto de tua vitória, sempre haverá quem conte a história que não contaste.  Não é, Madame Faure? Venceste-me por um prato de comida.  Estou aqui para contar a história que não é a tua. Se todo vencedor soubesse disto não diria, como Breno, Vae victis, ele próprio depois vencido. Não foi, Camilo?  Assim, vingado está, Didi, pensaste nisto, Quertezer?  KaRa de fome e sorriso nos olhos. Onde estarás agora, Dr. Baiúca, nos braços de Aloisio Leal, no plano celestial? Triste história de uma  justiça subserviente e acovardada. Que justiça que tu fazes para o roto e esmulambado?  Levem-na à ruína. Ressuscitem-na das cinzas.       
                      
                            


Continuação no livro NOITE EM PARIS, breve na livrarias.

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